O Instrumento de Espectroscopia da Energia Escura (DESI, na sigla em inglês) é um dispositivo que mapeia a estrutura do Universo em largas escalas, monitorando aproximadamente 30 milhões de galáxias.
Utilizado na criação de mapas tridimensionais, uma equipe de pesquisadores de diferentes partes do mundo empregou informações do DESI para desenvolver o maior mapa 3D já feito do Universo – avaliando a taxa de sua expansão ao longo de 11 bilhões de anos.
Os novos dados foram divulgados nesta quinta-feira (4), em uma reunião da conferência científica da Sociedade Americana de Física no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que aconteceu entre os dias 3 e 6 de abril.
Esta é a primeira vez que um período tão longo de expansão é analisado com uma precisão superior a 1%, o que garante importantes informações para o estudo da energia escura – uma força ainda misteriosa, mas que ocupa a maior parte do Universo.
O DESI fica localizado no Observatório Nacional de Kitt Peak (KPNO), no estado do Arizona, nos Estados Unidos. Ele conta com 5 mil fibras ópticas – filamentos utilizados na transmissão de luz –, operadas por um braço robótico que permite a observação do céu em uma grande escala.
As novas análises reafirmam o modelo de Universo vigente, conhecido como Lambda-CDM, que concorda com a teoria do Big Bang. Esse modelo abrange a matéria comum e a matéria escura fria (MDL), além da energia escura, referida como Lambda. De acordo com a teoria, enquanto a matéria como a conhecemos e a matéria escura desacelera a expansão do Universo, a energia escura acelera.
Contudo, o estudo adiciona novos questionamentos sobre essa aceleração cósmica, descoberta em 2011 e que rendeu o Prêmio Nobel de Física no mesmo ano a três pesquisadores. Esse achado coloca alguns aspectos da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein, em dúvida. Em tese, a gravidade une a matéria, de modo que quando uma bola é lançada para o ar, a gravidade terrestre a atrai de volta em direção ao planeta.
“Mas, nas maiores escalas, o Universo age de maneira diferente. Está agindo como se houvesse algo repulsivo separando o Universo e acelerando sua expansão”, explica Ishak-Boushaki, professor de física na Universidade do Texas e colaborador do DESI, em comunicado. “Esse é um grande mistério e estamos investigando-o em diversas frentes. É uma energia escura desconhecida no Universo ou é uma modificação da teoria da gravidade de Albert Einstein em escalas cosmológicas?”A comunidade científica ainda diverge sobre o papel da energia escura na aceleração cósmica. Enquanto alguns acreditam na sua participação, outros teorizam que ela aja como uma constante cosmológica – propriedade inerente do espaço que impulsiona essa aceleração. Mesmo sem uma unanimidade, as novas observações sugerem que a energia escura passou por uma evolução ao longo do tempo.
“Quanto mais dados coletarmos, mais bem equipados estaremos para determinar se essa descoberta se mantém. Com mais dados, poderemos identificar diferentes explicações para o resultado que observamos ou confirmá-lo”, diz Ishak-Boushaki. “Se persistir, tal resultado lançará alguma luz sobre o que está causando a aceleração cósmica e proporcionará um enorme passo na compreensão da evolução do nosso Universo.”
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