Com as diferentes composições, massas e órbitas
possíveis para os planetas fora do Sistema Solar, a vida talvez não esteja
limitada a mundos similares à Terra em órbitas equivalentes à terrestre.
Essa é uma das conclusões apresentada por Sara
Seager, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, em artigo
de revisão publicado no periódico "Science", com base na análise
estatística dos cerca de 900 mundos já detectados ao redor de mais de 400
estrelas.
Seager destaca a possível existência de planetas
cuja atmosfera seria tão densa a ponto de preservar água líquida na superfície
mesmo a temperaturas bem mais baixas que a terrestre.
Como todas as formas de vida conhecidas dependem de
água, sua presença na superfície é tratada como o ponto central da definição de
"habitabilidade". Mundos habitáveis tradicionalmente seriam aqueles
que, como a Terra, estão a uma distância tal de sua estrela que, com uma
atmosfera pouco densa, poderiam ter corpos d'água estáveis no solo.
Contudo, um consenso emergente é o de que a extensão
dessa zona habitável depende fundamentalmente das características intrínsecas
dos planetas em questão e pode se estender a uma área que iria além da órbita
de Júpiter, no Sistema Solar, se o mundo orbitando ali tivesse uma composição
adequada.
"As possibilidades mais amplas aumentam a
chance futura de descobrirmos um mundo habitado", afirma Seager.
Arquiteturas
Graças ao número crescente de descobertas,
finalmente os astrônomos começam a entender a natureza da formação dos sistemas
planetários.
A boa notícia: é bem parecido com o que sugeria a
teoria, criada na época em que só tínhamos um exemplar conhecido, o Sistema
Solar. A realmente boa: existem muito mais variações para a
evolução desses sistemas do que os cientistas antes imaginavam.
Na prática, isso quer dizer que a arquitetura básica
vista em nosso sistema, com os planetas pequenos rochosos mais próximos da
estrela e os gigantes gasosos mais distantes, é apenas um dos possíveis
desfechos da formação planetária.
Duas
técnicas
A imensa maioria dos planetas descobertos fora do
Sistema Solar foi revelada por meio de duas técnicas. A mais antiga e
eficaz até hoje é a que mede variações na luz da estrela causadas pelo
bamboleio que ela faz conforme planetas giram ao seu redor. Como ela mede
diretamente o efeito da gravidade do planeta sobre sua estrela, é possível ter
uma boa estimativa de sua massa.
A segunda técnica envolve a observação de trânsitos
--minieclipses causados pela passagem dos planetas à frente de sua estrela--,
que só ganhou grande impulso quando foram lançados satélites especializados em
detectá-los. A detecção do trânsito é feita pela medição da redução do
brilho da estrela causada pela passagem do planeta. É, portanto, uma boa medida
do tamanho.
Juntas, as duas técnicas permitem uma caracterização
mais precisa dos planetas extrassolares. Afinal, com a massa e o tamanho,
pode-se calcular a densidade.
A densidade, por sua vez, é uma pista bastante
concreta da composição. Foi assim, por exemplo, que os cientistas
conseguiram confirmar que pelo menos alguns dos planetas categorizados como
"superterras" --por serem maiores que a Terra, mas menores que os
menores planetas gigantes do Sistema Solar-- são rochosos como o nosso mundo.
Contudo, nem sempre se pode aplicar as duas técnicas
ao mesmo tempo. Enquanto a medição do bamboleio gravitacional é difícil para
planetas menores e mais distantes da estrela, a técnica do trânsito depende do
alinhamento apropriado do sistema planetário, de forma que os minieclipses
possam ser observados daqui.
Ainda assim, conhecendo bem os viéses que cada
técnica produz, os cientistas são capazes de compensar matematicamente as
falhas para apresentar um quadro estatístico mais seguro dos planetas
extrassolares.
É basicamente o que traz Andrew Howard, da
Universidade do Havaí em Manoa (EUA), em outro artigo de revisão publicado no
especial de exoplanetas da "Science".
Sabe-se hoje, por exemplo, que planetas menores são
bem mais comuns na Via Láctea que os gigantes. Contudo, as Terras não são mais
comuns que as superterras. Aparentemente, o número de planetas vai aumentando
em razão inversa do tamanho (ou seja, quanto menor, mais planetas) até atingir
um valor crítico de pouco menos de 3 vezes o diâmetro da Terra. Daí para baixo,
a prevalência é aproximadamente igual.
Fontes: Astronews, UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário