Após 13 anos em órbita, a sonda Cassini-Huygens inicia sua última fase
com uma série de mergulhos entre os anéis de Saturno, uma manobra que
pode trazer dados sem precedentes sobre o planeta.
A entrada de Cassini nos anéis estava prevista para a madrugada desta quarta-feira. O percurso final da sonda é composto por 22 órbitas com duração de uma semana cada, aproximando-se cada vez mais de Saturno ao cruzar entre seus anéis.
A sonda se movimentará com uma velocidade de 110 mil km/h, tão
rapidamente que qualquer colisão com outros objetos - mesmo partículas
de terra ou gelo - poderia provocar danos.
Por esse motivo, a sonda usará sua antena maior como um escudo, o que
significa que ela ficará inacessível durante o mergulho. Os
controladores da agência espacial dos EUA (Nasa) esperam obter uma
resposta dela apenas na quinta-feira.
A Nasa chama esses mergulhos de "grand finale" por causa da ambição do
percurso. A missão está prevista para terminar em setembro, quando
acabar o combustível da nave e ela se lançar sobre a atmosfera do
planeta.
Os últimos passos da sonda prometem imagens em resolução sem paralelo e
dados científicos que podem desvendar o quebra-cabeça sobre a criação e a
história do enorme planeta.
"Vamos terminar essa missão com muitas informações novas, dados
incríveis nunca antes descobertos", diz Athena Coustenis, do
Observatório de Paris em Meudon, na França. "Esperamos conseguir (dados
sobre) composição, estrutura e dinâmica da atmosfera, além de
informações fantásticas sobre os anéis".
Nasa/JPL-CALTECH |
Um objetivo central é determinar a massa e, portanto, a idade dos anéis -
formados, acredita-se, por gelo e água. Quanto maior a massa, mais
velhos eles podem ser, talvez tão antigos quanto o próprio Saturno.
Os cientistas pretendem descobrir isso ao estudar como a velocidade da
sonda é alterada enquanto ela voa entre os campos gravitacionais gerados
pelo planeta e pelas faixas de gelo que giram em torno dele.
As órbitas terão uma inclinação de 63 graus em relação ao equador de
Saturno e prometem as observações em melhor resolução já feitas no
interior dos anéis e das nuvens do planeta.
Sonda vai coletar dados sobre os anéis de Saturno
Nasa/JPL-CALTECH
Cassini também deve medir o campo gravitacional de Saturno a apenas 3
mil km da camada mais externa de nuvens, aumentando significativamente
os modelos atuais de medição da estrutura interna do planeta e de seus
ventos na atmosfera.
Os cientistas também esperam poder medir separadamente a gravidade do
planeta, sem contar a influência exercida pelos anéis sobre a
espaçonave, o que representaria uma precisão sem precedentes.
"No passado, não conseguimos determinar a massa dos anéis porque Cassini
estava voando fora deles", explica Luciano Iess, da Universidade
Sapienza de Roma, na Itália.
"Somos capazes de estimar a velocidade de Cassini com uma precisão de
poucos microns por segundo. Isso é fantástico se você considerar que
estamos a mais de um bilhão de quilômetros de distância da Terra."
No entanto, saber a massa exata do planeta pode não necessariamente
resolver a questão da idade, afirma Nicolas Altobelli, cientista da
Agência Espacial da Europa, que é parceira da Nasa nessa missão.
"Ainda precisamos entender a composição dos anéis de Saturno. Eles são
feitos de água e gelo. Se eles são assim tão velhos, formados na mesma
época que Saturno, como podem parecer tão inteiros considerando que são
bombardeados o tempo todo por pedaços de meteoritos?", afirma.
Uma possibilidade é que os anéis na verdade sejam bastante jovens,
talvez as sobras de um cometa gigante que chegou perto demais de Saturno
e se partiu em inúmeros fragmentos.
http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/o-que-o-mergulho-da-sonda-cassini-entre-saturno-e-seus-aneis-pode-revelar-26042017
Por: Rodrigo de O. França
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