Terminou
nesta sexta-feira (4) a missão Mars500, uma parceria entre Rússia, China e a
agência espacial europeia (ESA, na sigla em inglês) que faz por merecer o
apelido de “Big Brother Marte”.
Durante
mais de um ano, seis homens simularam uma viagem ao planeta vermelho, presos em
uma "nave espacial" localizada em Moscou, na Rússia. Eles
"voltaram à Terra" no início da manhã, no horário de Brasília.
Os seis "tripulantes" posam para foto após a conclusão da missão Mars500.
Os seis
homens, de diferentes nacionalidades, embarcaram em 3 de junho de 2010. Na
"nave", eles só podiam tomar banho uma vez por semana, tinham
diversas tarefas a cumprir e para falar com o mundo exterior tinham que
respeitar o tempo que demora para uma mensagem de verdade ir da Terra até Marte
– o que pode chegar a até meia hora.
A
"nave" é na verdade um conjunto de módulos construídos dentro do
prédio do Instituto de Problemas Biomédicos da Rússia, um dos parceiros do
projeto. O site da instituição colocou imagens em 360º da nave Mars500.
Mais de 6
mil pessoas de 40 países se candidataram para participar do projeto. No fim, os
escolhidos foram o cirurgião russo Sukhrob Kamolov, o engenheiro francês Romain
Charles, o médico russo Alexandr Smoleevskyi, o engenheiro ítalo-colombiano
Diego Urbina, o instrutor de astronautas chinês Wang Yue e o engenheiro russo
Alexey Sitev, comandante da missão.
Smoleevskyi,
Urbina e Yue simularam também uma visita à superfície do planeta. Durante uma
caminhada espacial, Urbina fingiu ter machucado a perna em uma pedra para
testar o atendimento médico interplanetário de Smoleevski.
Objetivos
O
objetivo do projeto era avaliar as condições psicológicas de uma tripulação
forçada a ficar em um espaço reduzido, sem contato com o mundo exterior por
tanto tempo.
Para
levar o homem a Marte, além dos diversos desafios técnicos, como o tamanho do
foguete e as experiências que precisam ser feitas, as agências espaciais
precisam também resolver dilemas psicológicos e práticos. Por exemplo: será que
seis pessoas nessas condições tão extremas não vão ficar loucas? Ou deixar de
trabalhar em equipe?
Os
primeiros resultados são positivos. O grupo do Mars500 reagiu bem ao isolamento
de mentira, segundo a ESA.
O momento
mais crítico foi em agosto, quando a missão chegou ao seu ponto mais monótono e
a comunicação com o mundo exterior mais difícil. Os “astronautas” acabaram mais
deprimidos, mas conseguiram completar todas as suas tarefas.
Esquema do simulador da missão a Marte
Outras
perguntas ainda ficam sem resposta, pelo menos por enquanto. Ainda não existe,
por exemplo, um consenso sobre se uma viagem a Marte deveria ser feita por uma
tripulação mista ou apenas de um dos sexos, como foi a da Mars500.
Um grupo
misto, tanto tempo isolado, pode gerar conflitos amorosos na tripulação. Por
outro lado, colocar apenas homens ou apenas mulheres no voo pode parecer
preconceito para o público (e não significa que relações amorosas não vão
acontecer).
Além
disso, os astronautas de verdade vão enfrentar problemas de saúde bem mais
sérios, por causa da ausência de gravidade e da radiação solar – coisas que são
impossíveis de simular adequadamente em Terra. E, por mais isolados que
estivessem, os participantes da Mars500 sabiam que estavam em Moscou e que
podiam ir para casa a qualquer momento (embora nenhum tenha pedido para sair da
nave).
A
tripulação que for a Marte não vai ter esse conforto. Qualquer problema,
acidente ou morte que ocorra a bordo vai precisar ser resolvido sem ajuda
externa. No espaço, o controle de missão não está no corredor ao lado. E não há
como voltar a nave de volta para a Terra no meio do voo.
Aprovação
Os
participantes estão convictos de que a missão atingiu seu objetivo. “Todos
adquirimos grande experiência valiosa, que vai ajudar a arquitetar e planejar
futuras missões a Marte. Estamos prontos para embarcar na próxima nave para
lá”, disse o francês Romain Charles.
“Na
missão Mars500, fizemos na Terra a viagem espacial mais longa da história, para
que a humanidade um dia veja um novo amanhecer em um planeta distante, mas
alcançável”, completou o ítalo-colombiano Diego Urbina.
Nos próximos dias, os participantes passarão por
exames médicos e psicológicos minuciosos, e terão também a oportunidade de
relaxar. Até dezembro, eles ainda terão de responder a questionários e fazer
novos testes, na última fase de coleta de dados.
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