Um grande estudo liderado por um pesquisador da
Universidade de São Paulo está muito perto de encontrar os primeiros planetas
"brasileiros" fora do Sistema Solar.
Jorge Meléndez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), chefia o grupo internacional responsável pelo trabalho, que tem por objetivo decifrar como surgem as diversas arquiteturas possíveis para um sistema planetário.
Jorge Meléndez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), chefia o grupo internacional responsável pelo trabalho, que tem por objetivo decifrar como surgem as diversas arquiteturas possíveis para um sistema planetário.
Para tanto, ele obteve 88 noites de observação
no telescópio de 3,6 m do Observatório Europeu do Sul (ESO) em La Silla,
Chile. É lá que está o espectrógrafo Harps, festejado na semana passada pela
descoberta de um mundo do tamanho da Terra em Alfa Centauri B. Ele mede
variações na luz vinda das estrelas, causadas por um bamboleio sutil que é
sintoma da influência gravitacional de planetas por perto.
As 88 noites estão distribuídas ao longo de
cinco anos (de 2011 até 2015), mas resultados parciais foram apresentados
durante a 37ª Reunião Anual da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB).
E já se pode falar algo dos possíveis primeiros
planetas descobertos por uma pesquisa nacional, embora não se possa ainda
cravar o achado (é costume dos caçadores de planetas só fazer um anúncio quando
uma órbita completa é observada). Por ora, já se viu sinais de um candidato a
"Saturno quente" (um planeta do porte de Saturno, mas muito próximo
de sua estrela) e de outro similar a Júpiter.
Química estelar - O que chamou a atenção do ESO
para a aprovação do projeto brasileiro não foi tanto a perspectiva de encontrar
planetas, mas a possibilidade de desvendar uma possível relação entre a
composição química da estrela e seu sistema de planetas.
Meléndez e seus colegas concentram seus
esforços nas chamadas "gêmeas solares", estrelas que têm basicamente
os mesmos parâmetros do Sol. No entanto, a metalicidade (teor de metais) desses
astros varia levemente. Os pesquisadores acreditam que exista uma relação entre
a presença menor de metais na estrela e a formação de planetas do tipo rochoso,
como a Terra, nas regiões mais internas do sistema.
Nesse contexto, o astro mais interessante
dentre as 70 gêmeas solares que estão sendo observadas tende a ser uma estrela
batizada de HIP 56948. Ela é praticamente idêntica ao Sol, inclusive em
metalicidade.
E o que os astrônomos viram nela, até agora, é
exatamente nada, o que na verdade é uma grande notícia. "Isso significa
que, ao menos perto da estrela, o sistema está livre de planetas gigantes. É
interessante, porque permitiria a existência de planetas rochosos nessas
regiões."
Caso a relação entre a metalicidade e a
configuração dos sistemas planetários seja real, será uma revolução na busca
por planetas extrassolares, facilitando achar "gêmeas idênticas" da
Terra.
Fonte: Folha de São Paulo